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Esta é a história ainda não contada de diversos negros que se destacaram, diante das agruras de uma sociedade racista e elitista, que teima em afirmar que o Brasil é uma democracia racial.

 

Esta é a história não contada do Movimento Black do Rio de Janeiro, Brasil, que surgiu durante o período tumultuado das décadas de 1960 e 1970.

 

Esta é a história vivida por um jovem líder negro do Rio de Janeiro, que foi assediado  e preso  por simplesmente querer usar as letras edificantes de James Brown, exibir o  seu  cabelo afro no melhor estilo blackpower e com o seu dom de proferir palavras de ordem para ajudar a juventude negra a reconhecer e ter orgulho de sua identidade.

 

Esta é a história de um artista que surgiu como um "tornado",  burlou o sistema e ganhou a mídia  vencendo o V Festival da Canção, no Maracanãzinho lotado.

 

Esta é a história de um artista ícone que comando à capella a participação de toda a plateia do Maracanãzinho, e cantou para Martin Luther King, mas que, na mesma proporção do sucesso, foi massacrado pela sociedade racista e elitista.

 

Esta história de uma artista baiano que passou pela Tropicália e incendiou a Refavela nos primórdios da ditadura militar, e que não perdeu a  popular elegância ao tornar-se Ministro da Cultura.

 

Esta é a história contada pelos precursores do Movimento Black Rio que narram suas histórias de emancipação política – são artistas e intelectuais afro-brasileiros que, à exemplo dos afro-americanos, se valeram de produtos culturais de qualidade como ferramentas para a libertação e o fortalecimento da autoestima  da sociedade afrodescendente.

 

O Brasil e os Estados Unidos viveram histórias semelhantes de escravidão, de genocídio, do racismo sistêmico, da opressão social que relega a população negra ao nível da pobreza.; mas também se assemelham quanto ao imenso legado cultural que a sociedade afrodescendente vem contribuindo ao longo da história, para o conteúdo artístico de qualidade – especialmente no âmbito da música – nos dois países.

 

Um dos maiores atores do cenário cultural afrodescendente do país, Don Filó, foi um dos criadores do Movimento Black Rio.   Engenheiro cultural, Filó promoveu uma revolução,  na década de 70  sem saber o rumo que esse movimento tomaria. Ele e um grupo de jovens contribuíram para transformar a dura realidade da discriminação racial com a valorização  da autoestima da juventude negra através da música, do cinema, e da literatura, principalmente  ampliar fatos históricos e contemporâneos de uma sociedade, fornecendo não apenas um vislumbre da história, mas também o compartilhamento do impacto cultural do passado, propiciando uma maior compreensão do presente e possivelmente do futuro .

 

Atualmente, o racismo é proibido pela Constituição e punível com prisão. No entanto, os negros no Brasil estão longe de ter seus direitos humanos respeitados. Além disso, o racismo e seus elementos estruturais são difíceis de provar escamoteado pela “retórica” da democracia racial.

 

O Movimento Black no Brasil era na verdade uma combinação de fatores locais, nacionais e transnacionais, resultando na formação de projetos culturais e políticos iniciados no Rio de Janeiro, estendendo-se posteriormente para outras partes do Brasil, além de alcançar a adesão de países da América do Sul, Caribe e África. 

 

O simbolismo Black Power foi encontrado pela primeira vez nas manifestações de protesto nacionalistas negros americanos dentro de segmentos como música, cosméticos e roupas, na década de 60.  Os afro-americanos, especialmente, têm utilizado de forma consistente a música como forma de protesto, motivação, libertação e empoderamento econômico.

 

No Brasil, o Movimento Soul conseguiu sobreviver e se fortalecer nos anos mais repressivos da ditadura militar que manteve o controle político por mais de duas décadas. A presidência do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) foi marcado por um boom econômico e sufocante repressão cultural. Em uma atmosfera ultranacionalista, o black soul era menosprezado e castigado (mesmo por alguns negros importantes) por não ser autenticamente brasileiro.

 

No entanto, a força do Soul -  música e  mensagem - ressoou entre a população negra do Brasil. As festas black no formato de bailes de música Soul tornaram-se cada vez mais populares, sob o comando de equipes como A Cova, Alma Negra, A Torre, Apoluisom, Atabaque, Balanço R.Soul, Black Clube, Black Flower, Black Philadélphia, Black King, Black Night, Black Power, Black R.D, Black Soul, Boot Power, Cap Som, Cashbox, Celula Negra, Chicago Disco Sex, Concepção Erótica, Dynamic Soul, Enigma Soul, Equipe Modelo, Furacão 2000, Horus, Hollywood, J.B. Soul, JB Santos, Jet Black, Khaunna, Love Power, Luizinho DiscJockey Soul, Make Som, Olho Negro, Olympic Soul, Pop Rio, Petrus, Revolução da Mente, Santos Brazilian Soul (Ex- CurtiSoul), Sons e Efeitos, Soul Grand Prix, The House of Rock, Tropa Bagunça, Tropical, Truta Soul, Uma Mente Numa Boa, Vips e Virgiaure , atraindo mais de 10.000 pessoas quando se reuniam no formato de festival de Soul Music. 

 

Como o fenômeno cresceu, músicos brasileiros registraram sua própria marca de "Samba Soul". Um novo som alinhado ao som de James Brown com o tempero de samba e elementos tradicionais afro-brasileiros surgiram com Gilberto Gil em seu clássico álbum " Refavela", Tim Maia com a romântica "Primavera", Tony Tornado como o seu hit " Podes Crer Amizade", o clássico instrumental álbum "Maria Fumaça" da Banda Black Rio;  e outros soulbrothers como Tony Bizarro, Carlos Dafé, Gerson King Combo, Lady Zu, Cassiano, Banda União Black, Hyldon, entre outros.

 

Todo esse movimento só possível graças a atuação nos bastidores dos agentes de bailes como Osni Silva, Nirto Promoções, Paulo Apocalipse, Rômulo Costa, Cris Produções, J. Pestana, João da SORAC,  Valente, Robinho, entre outros. Eles que empresariavam as equipes de som, abrindo as portas dos clubes como o Grêmio Recreativo de Austin, Guadalupe Country Clube, Lespam, Piedade Tênis Clube, CREIB de Padre Miguel, Belém FC, , Maxwell, Coleginho, Grêmio de Rocha Miranda, Ideal de Olinda, CCIC de Pilares, Portelão, GREIP da Penha, Olaria EC, Bohemios de Irajá, Social Recreativo Apolo, Casino Bangu, Vasquinho de Morro Agudo, Serrano FC, Ideal de Olinda, entre outros.

 

Estes grupos usaram o orgulho negro na sua música e na arte estampada nas capas de disco, ampliando com isso a identidade do Pan-Africanismo no mundo.  Grande parte da recente música popular brasileira trouxe também uma mensagem de resistência negra. No entanto, a música afro-brasileira é muitas vezes arrogantemente descartada e relegada, inclusive o tradicional Samba.

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Movimento Black Rio

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